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quinta-feira, março 08, 2018

Dia da Mulher e Natália Correia



No dia internacional da mulher, recordo pessoalmente Natália Correia, que conheci com esta aparência, já no fim dos seus dias. Casada 4 vezes com homens (o 4º marido julgava ser o terceiro), era vulgar dizerem que era lésbica, que não gostava de homens, porque considerava as mulheres superiores aos homens. 

Ciao, Natália!

"Acho que a missão da mulher é assombrar, espantar. Se a mulher não espanta... De resto, não é só a mulher, todos os seres humanos têm que deslumbrar os seus semelhantes para serem um acontecimento. Temos que ser um acontecimento uns para os outros. Então a pessoa tem que fazer o possível para deslumbrar o seu semelhante, para que a vida seja um motivo de deslumbramento. Se chama a isso sedução, cumpri aquilo que me era forçoso fazer. 

Natália Correia, in Entrevista '(1983)' "

terça-feira, novembro 20, 2007

Autogénese Poema de Natália Correia



Uma nossa recente amiguinha deste blogue, auto-designada por Luanda, pede-me que coloque aqui o poema completo "Autogénese" de que já coloquei parte em Setembro do ano passado. Vou enviar-lho por email como pediu, mas tenho muito gosto em colocar aqui esse magnífico poema da Natália Correia, que conheci pessoalmente e que me deu muitos momentos de fruição estética. Diz este poema, se bem o entendo, que cada um se faz a si mesmo, desde que não se deixe influenciar incontroladamente por aquilo que o rodeia. Concordo e a Luu também, acho eu.
Afinal a Luu diz que tem um disco do Vinícius com a Amália em que a Natália canta isto. Espero que nos mande essa música, pois não conheço.

(Mais tarde: acrescento este vídeo, com o poema dito pela própria Natália Correia).
AUTOGÉNESE


Nascitura estava
sem faca nos dentes
cómoda e impura
de não ter vontade
de bater nas gentes.

Nasce-se em setúbal
nasce-se em pequim
eu sou dos açores
(relativamente
naquilo que tenho
de basalto e flores)
mas não é assim:
a gente só nasce
quando somos nós
que temos as dores;


pragas e castigos
foram-me gerando
por trás dos postigos
e um fórceps de raiva
me arrancou toda
em sangue de mim.

Nascitura estava
sorria e jantava
e um beijo me deste
tu Pedro ou Silvestre
turvo namorado
do verão ou de outono
hibernal afecto
casca azul do sono
sem unhas do feto.

Eu nasci das balas
eu cresci das setas
que em prendas de sala
me foram jogando
os mulheres poetas
eu nasci dos seios
dores que me cresceram
pomos do ciúme
dos que os não morderam;

nasci de me verem
sempre de soslaio
de eu dizer em junho
e eles em maio
de ser como eles
às vezes por fora
mas nunca por dentro

perfil de uma estátua
que não sou de frente.

Nascitura estava
e mais que imperfeita
de ser sorte ou dado
que qualquer mão deita.

Eu nasci de haver
os bairros da lata
do dedo que escapa
dos sapatos rotos
da fome que mata
o que quer nascer
e que o sábio guarda
em frascos de abortos;

eu nasci de ver
cheirar e ouvir
dum odor a mortos
(judeus enlatados
para caberem mais
mas desinfectados)
pelas chaminés
nazis a sair
de te ver passar
de me despedir
de teus olhos tristes
como se existisses.

Nascitura estava
tom de rosa pulcra
eu me declinava
vésper em latim:
impura de todos
gostarem de mim.


sexta-feira, março 21, 2014

Natália Correia

Neste dia da poesia e segundo dia de primavera, este poema de Natália Correia, dizendo que não devemos colher flores


 "Flores não colhas porém; sem nexo, se colhidas,
Vão morrer-te nos braços.
Deixa-as serem na haste o hálito da vida
Que te perfuma os passos"
                                                                       Natália Correia

sábado, março 19, 2016

Natália Correia "Núpcias químicas" do disco "Improviso"




Neste dia da poesia, o blogue quer homenagear Natália Correia com o seu belo poema alquímico Núpcias Químicas, agora em áudio, dito por ela mesma.

Natália Correia*‎- "Núpcias químicas" do disco "Improviso" (LP 1973)

quarta-feira, outubro 05, 2011

Condecorações e medalhas

Ao ver as condecorações e medalhas que foram hoje atribuídas pelo Presidente da República, lembrei-me de um episódio que me dá sempre vontade de rir.
Ao entrar no bar Botequim, que pertencia a Natália Correia, ou tinha pertencido, mas isso são pormenores, reparei que, semi-ocultos por baixo de uma mesa, havia dois sacos de plástico, desses dos supermercados, cheios de qualquer coisa.
Num lugar daqueles, naquela hora nocturna, em que era suposto haver uma certa elegância, era inusitada a presença dos sacos de plástico, pelo que perguntei o que era aquilo.
Eram as as condecorações e as medalhas que Natália Correia tinha recebido até àquele momento. Como estava a ser preparada uma exposição sobre a sua obra, como não sabia o significado nem o nome das medalhas, levou-as para perguntar a alguém que entendia do assunto.
Dois sacos de plástico cheios de condecorações e medalhas, já um tanto envelhecias, as  fitas desbotadas e amarrotadas, via-se que não tinham sido particularmente estimadas. Debaixo de uma mesa...
Sempre me pareceu que Natália Correia tinha uma faceta anarquista. Bem ou mal, foi assim que entendi este episódio.

quinta-feira, setembro 14, 2023

Não Percas a Rosa

 



No centenário da Natália Correia, recordo muitas vezes um episódio. Eu andava a escrever a primeira tese universitária sobre a sua obra (ninguém queria fazer ou orientar essas teses por medo dela) e ia muito regularmente ao Botequim, onde participava das tertúlias constantes que lá se faziam. Se ainda não leram, vale a pena ler o livro muito interessante da Natália “Não percas a Rosa” um diário do PREC em que quase tudo acontece neste restaurante-bar, pertencente ao seu terceiro marido.  

Comecei a interessar-me por política, pois a Natália fazia questão que eu me sentasse na mesa dela ou na do Dórdio Guimarães, o quarto marido, desde que eu lhe disse que estava a fazer a tese. Comecei a ler os jornais e a ver o telejornal, sobretudo ao sábado, antes de ir para lá, para poder participar ativamente das conversas.  

Um dia, o telejornal deu uma curta entrevista com o escritor David Mourão Ferreira, muito amigo da Natália, mas eu não percebi nada do que ele disse. Pensei: o que vou eu dizer à Natália? Que não percebi nada? Nem pensar nisso é bom! Não vou ao Botequim. Vou e digo que não vi. Vou e digo que percebi tudo. Não vou. 

Digo que o televisor se avariou, conjecturava eu já no táxi a caminho do Botequim. Pronto, digo que vi e finjo que percebi perfeitamente, digo que sim com a cabeça… quando lá chegar volto para trás e vou para casa… 

Mal entro no Botequim, dou um beijo à Natália, sento-me à mesa e a Natália pergunta- me imediatamente:

- A menina viu a entrevista com o David Mourão Ferreira na televisão ? 

- Vi.

- E percebeu alguma coisa? 

- Não… não percebi nada. 

A Natália ficou muito feliz com esta resposta e disse muito alto, dirigindo-se  a todos os que se encontravam no bar:

- Veem? Esta menina não percebeu absolutamente nada do que disse o David! Vou já telefonar ao David e dizer-lhe! Ó Sr. Bandola, ligue-me já o telefone para o David Mourão Ferreira.

Envergonhadíssima, aterrada, a pensar que estava a viver um pesadelo, pouco faltou para eu me meter debaixo da mesa ou fugir dali a sete pés, ao ouvir tais declarações. Mas a Natália explicou-me: também não tinha percebido nada, mas toda a gente que entrou no Botequim antes de mim e a quem fez a mesma pergunta, respondeu logo que tinha percebido tudo perfeitamente. 

Ao telefone, minutos depois, o “David” contou-lhe que nessa entrevista tinha dito cobras e lagartos da situação política e sobretudo de Cavaco Silva. Então os jornalistas cortaram todas as críticas que fez e emendaram as outras frases e o seu discurso de tal maneira absurda, que nem ele próprio percebeu nada do que disse no noticiário do Telejornal. 

Depois desta conversa, a Natália contou alto e bom som tudo isto , injuriou todos os outros frequentadores que se encontravam no Botequim e elogiou-me imenso, colocando-me nos píncaros, menina cultíssima, inteligentíssima, verdadeira, disse logo que não percebeu nada…

Completamente babada com tanto elogio dito em voz alta e naquele tom de voz da Natália, jurei para nunca mais voltar a ter as dúvidas que tinha tido e jurei para mim mesma que nunca mais iria fingir perceber o que não perceber.

E também jurei, é claro, que nunca iria perder a rosa.

segunda-feira, março 16, 2015

Natália Correia: O Homúnculo



Faz hoje anos que Natália Correia morreu. Faz 22 anos.

E vai agora ao palco pela primeira vez uma sua peça, que só foi representada À porta fechada durante a ditadura salazarista.
Porque o homúnculo ("chulo" é um diminutivo, como em "corpúsculo"), ou seja, o homenzinho minúsculo, é Salazar.

Mas também podem ser estes homenzinhos minúsculos: Sócrates, Passos Coelho, Cavaco Silva e tantos outros, que nem têm conta.

A mim parece-me que é pena ser esta  aprimeira representação da peça, semq ue Natália nunca tenha visto nenhuma, mas é bom que finalmente aconteça.

Em Setúbal
VER AQUI

(Fotografia tirada pelo primo, José manuel Correia)

terça-feira, fevereiro 05, 2019

Marcelo "cheio de pulguedo" como "diria" e disse a Natália Correia





Natália Correia conhecia Marcelo Rebelo de Sousa. Conheceu-o quando nadou no Tejo para se candidatar a Presidente da Câmara de Lisboa. Com tanto abraço, qualquer um fica "cheio de pulguedo"... 
Com a sua veia sarcástica, aqui vai o poema de Natália sobre Marcelo!


MARCELO E AS TÁGIDES

Marcelo, em cupidez municipal
de coroar-se com louros alfacinhas,
atira-se valoroso – ó bacanal! –
ao leito húmido das Tágides daninhas.

Para conquistar as Musas de Camões
lança a este, Marcelo, um desafio:
Jogou-se ao verso o épico? Ilusões!…
Bate-o Marcelo que se joga ao rio.

E em eleitorais estrofes destemidas,
do autárquico sonho, o nadador
diz que curara as ninfas poluídas
com o milagre do seu corpo em flor.

Outros prodígios – dizem – congemina:
ir aos bairros da lata e ali, sem medo,
dormir para os limpar da vil vérmina
e triunfal ficar cheio de pulguedo.

Por fim, rumo ao céu, novo Gusmão
de asa delta a fazer de passarola,
sobrevoa Lisboa o passarão
e perde a pena que é de galinhola.



terça-feira, dezembro 17, 2013

"Temos fantasmas tão educados / Que adormecemos no seu ombro "






Natália Correia escreveu isto no tempo de Salazar. Atualmente, Portas, o tipo dos submarinos e das decisões irrevogáveis, que se revogam imediatamente, afirma que:

"Reformar com acordo social é uma singularidade positiva de Portugal" (Clicar para ler).


Ou seja, qualquer país, no nosso lugar, já tinha feito uma revolução e decapitado ou defenestardo esta cambada horrenda que nos governa, mas nós não.

- Ke Kridos que nos somos. Não éramos? não tínhamos sido?  - Diremos um dia, quando já não existirmos, por excesso de delicadeza.

Aqui vai o poema completo. Foi dito por Natália Correia num julgamento em que era acusada, o que deixou os juízes ainda mais enxofrados contra ela. Tês anos de prisão com pena suspensa, foi a pena. Acusadada de quê? De liberdade de expressão. Claro.

Ganda Natália!

Queixa das almas
jovens censuradas
Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
E um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola.

Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma duma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade.

Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos o prémio de ser assim
Sem pecado e sem inocência.

Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato.
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro.

Penteiam-nos os crânios ermos
Com as cabeleiras dos avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós.

Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa história sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra para o medo.

Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Sonos vazios, despovoados
De personagens do assombro.

Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco.
Dão-nos um pente e um espelho
Para pentearmos um macaco.

Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura.

Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante.

Dão-nos um nome e um jornal,
Um avião e um violino.
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino.

Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte.
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida. Nem é a morte.


segunda-feira, setembro 17, 2012

"Temos fantasmas tão educados que adormecemos no seu ombro"

Muitos muito se orgulham pela manif do dia 15.
Por terem sido muitos. Por ter sido muito pacífica. Porque a a polícia se portou bem.

Aliás, portámo-nos todos tão bem, que até a imprensa francesa afirma que nos comportámos como "bons enfants" - em francês, no original, isto será o oposto de "enfants terribles"

Mas não é como meninos bem comportados que lá chegaremos.

Esta demonstração ainda foi só o princípio, quando ainda não há desespero e parece haver esperança.

Quanto à polícia, é óbvio que teve instruções para não mexer um dedo. Se não tiver servido para mais nada, serviu para constatar isso o desafio e a provocação que alguns jovens lhe fizeram em são Bento.

Tão mal visto e em maus lençóis que parece estar o governo, só lhe faltava reagir de forma violenta.

Os polícias fazem o que lhes mandam. Ou irá repetir-se o romantismo dos cravos de Abril?
O romantismo é giro, mas devemos ser perspicazes. 


Poesia de Natália Correia - Queixa das almas jovens censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crânios ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte



Natália Correia (Poetisa portuguesa, 1923-1993)


quarta-feira, setembro 13, 2006

Natália Correia

Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes, 
Creio em amores lunares com piano ao fundo, 
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,


Creio num engenho que falta mais fecundo 
De harmonizar as partes dissonantes, 
Creio que tudo é eterno num segundo, 
Creio num céu futuro que houve dantes,


Creio nos deuses de um astral mais puro, 
Na flor humilde que se encosta ao muro, 
Creio na carne que enfeitiça o além,


Creio no incrível, nas coisas assombrosas, 
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.


                                    in "Sonetos Românticos", Natália Correia

terça-feira, setembro 12, 2006

Natália Correia


É amanhã o aniversário do nascimento da grande poetisa, grande política e grande feminista Natália Correia, nascida nos Açores a 13 de Setembro dum ano que não importa, porque as mulheres não se medem aos anos.

terça-feira, novembro 07, 2017

Transformar a tristeza em indignação


Há muitos anos, aconteceu-me isto: eu estava tristíssima, creio que o motivo tinha a ver com a minha tese de mestrado sobre Natália Correia, extraordinária escritora e política que conheci bem, de quem fui amiga e que morreu durante a minha escrita da tese.


Um dia, uma outra amiga da Natália disse-me que, quando queremos obter um resposta a alguma dúvida existencial, antes de adormecer fazemos a pergunta a alguém que amamos e que já morreu. A resposta surge ao acordar.

Nesse dia, antes de adormecer coloquei a pergunta à Natália, recentemente falecida. Só para experimentar.

No dia seguinte, ao acordar, eu nem sequer me lembrava da pergunta, mas surgiram-me na ideia, com toda clareza, estas palavras: "Transformar a tristeza em indignação".

Sim, a Natália ter-me-ia dito isto, sim, era claramente a resposta à minha pergunta.

Sim, é claramente a resposta a muitas das nossas perguntas.

Quem respondeu? Provavelmente o meu subconsciente... Ou então, quem sabe???

Enfim... Foi um dos melhores conselhos que me "deram" na vida.

domingo, março 18, 2012

Natália

Natália Correia


A falta que faz esta mulher!
Não que fosse uma política muito ativa ou muito coerente, mas porque dizia o que ninguém tem coragem de dizer.
Num dos debates sobre o aborto, a criatura escolhida para ser contra, por um dos partidos, era um deputado cuja esposa tinha uma clínica de abortos, clandestina, claro.
A Natália ameaçou-o de denunciar esse facto e o tipo teve de ser substituído à última hora. Isto foi na época em que os políticos portugueses eram ainda, ou pelo menos pareciam, idealistas.
Não denunciou o deputado, mas acabou a fazer um poema satírico sobre um outro, pelo mesmo motivo e a declamá-lo na assembleia.


E como escritora...


Conheci-a bem. Falava bem. Escrevia bem. Tinha uma coragem que quase ninguém tem. Era amorosa.


Fez anteontem 19 anos que morreu.


Vou em breve publicar no Kindle a tese que escrevi sobre ela, iniciada em vida de Natália, terminada depois. 

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Um dos posts muito procurados neste blogue é aquele em que tenho o poema "Autogénese" de Natália Correia.
Aqui vai o vídeo em que a própria Natália o declama.

quinta-feira, janeiro 01, 2015

Pensamento para 2015: Ser normal é achar normal tudo o que está mal e que sempre esteve nesta nossa terra. Não sejamos normais!




Sempre admirei as pessoas que são muito diferentes de mim. Não as mais "sensatas", não as mais dentro da norma, ou seja, não quase todas, mas sim uma minoria muito diferente de mim, que é muito mais extravagante, muito mais fora do comum. 


Por isso fiz a tese de Mestrado sobre a Natália Correia, que continuo a admirar e que conheci pessoalmente muito bem. Porque a Natália não fazia menor ideia do que era ser "normal", já que foi criada com uma avó louca, demente. 


Proponho este projeto aos meus queridos amigos. Vamos fingir que tivemos uma avó espantosa, diferente de todo o mundo, que nos legou a fortuna de não percebermos o que os outros consideram ser normal..


O problema dos portugueses é quererem ser normais, sem refletirem sobre o que quer dizer ser normal. 

Ser corrupto, por exemplo, é ser normal.


Ser um estudante "rebelde", querendo dizer com "rebelde", ser um rapaz malcriado, grosseiro, sem interesses, sem ética, sem nada, é ser um rapaz normal. 



Ser normal é achar normal tudo o que está mal e que sempre esteve mal nesta nossa terra.

Confundindo ser rebelde com ser ignorante, vulgar e, portanto, corrupto.


Vamos ser diferentes em 2015?


domingo, junho 19, 2011

Os Novos Jovens

Tal como há os novos ricos e os novos pobres, também há agora os novos jovens. Senão, reparem: se lermos os jornais, constatamos ser consensual que este novo governo é muito jovem, o mais jovem de todos até hoje.


É um governo muito jovem, os ministros têm quarenta e tal, cinquenta e tal (por exemplo 59) anos.
Ai que bom! Sinto-me tão jovem!


O nosso Cardeal Patriarca também era muito jovem quando foi eleito, a acreditar no comunicação social. Só tinha 62 anos. Eu e os meus amigos costumamos mesmo chamar-lhe "O Jovem".

Tendo eu convivido com a escritora Natália Correia, que nunca se ria quando achava que não devia rir, fi-la ter um ataque de riso depois de ter afirmado que a juventude depende da profissão. 
Esperando um argumento estranho ou absurdo, pronta para replicar com veemência crítica, ouviu-me responder:
- Por exemplo, os jovens agricultores têm, no mínimo, 40, 50 ou 60 anos.

A solução para controlar um ataque de riso é tossir muito e foi o que ela fez. Porque havia pessoas muito sensatas a ouvir.
(Narro este episódio para o meu muito recente amigo virtual António, que adora a nossa Natália)

segunda-feira, fevereiro 10, 2014

Somos todos corruptos passivos, felizes, inocentes e fiéis

Muito antes de se saber que ia haver um sorteio das faturas, já eu pedia sempre a fatura com o NIF. Agora, quando a peço, dão-ma num trejeito irónico, como se eu fosse um denunciante, que pretende ganhar um automóvel. É o que diz Vasco Pulido Valente, na sua muito básica visão do mundo, hoje, na crónica do Público.


Esta criatura, Vasco Pulido Valente, escreve às vezes umas coisas acertadas, mas não esqueço o desgosto e a mágoa que provocou na Natália Correia quando escreveu que ninguém a lia e que os seus livros, (da Natália),  não estavam à venda em nenhuma livraria do país. Foi uma afirmação irresponsável, que ensombrou os últimos meses de vida desta escritora. E estavam à venda em todas as livrarias do país. 

Vejamos: os portugueses, desde o mais simpático ao mais antipático, o Pulido Valente,  não distinguem entre corrupção ativa e corrupção passiva: Somos todos corruptos passivos, felizes, inocentes e fiéis. 

Vou dar um exemplo: em vez de pagar 25 euros de impostos pelo jantar, pago mais 25 euros pelo jantar e zero de impostos. O Estado perde milhões e vem cortar-me no vencimento e nos meus impostos. 

O dono do restaurante, ou enriquece com mais 23  por cento que vão para ele, em vez de irem para o Estado, ou paga impostos, como eu, e não consegue sobreviver, porque a carne está quase estragada, o peixe cheira mal, a cozinheira não sabe cozinhar, mas a comida era barata (sem impostos) e os donos eram simpáticos. E corruptos.

Porque é que todos adoramos a comida caseira? Porque é muito melhor do que a  comida dos restaurantes vulgares. menos engordurada, mais saborosa e mais saudável. Durante décadas, tivemos restaurantes da pior espécie, baratos, com mão de obra escrava. Que sobreviveram aos impostos, porque não passavam faturas.

Mas a discussão em torno das faturas está ao nível do analfabetismo que grassa no país.

" Não se opor ao erro é aprová-lo. Não defender a verdade é negá-la." Tomás de Aquino

Não estou a  elogiar o Governo, um do spiorsque já tivemos. Apenas nos trata como merecemos. Não temos senso moral? Não temos senso de honestidade? Mas adoramos jogar. Viva o jogo!

sexta-feira, abril 24, 2020

25 de abril: Não Percas A Rosa!



Noite de 24 para 25 de abril. Passei varias destas noites no Botequim da Natália Correia a cantar até enrouquecer, as canções de abril. Adoro cantar e canto bem.
Parece-me bem que se comemore esta data, mas sempre como festa. 
Viva o 25 de abril, a revolução dos cravos!
Ou, como disse a Natália no título de um seu livro: "Não Percas A Rosa!".

segunda-feira, maio 21, 2012

Amizade, coragem, cobardia, sistema político: tudo se relaciona?

Vejo no Facebook uma minha amiga muito jovem,  que se queixa de várias coisas, pois está a atravessar um mau momento. Problemas amorosos, problemas de trabalho.
Queixa-se de que as pessoas que estavam do seu lado, deixaram de estar e isso deixa-a perplexa e perdida.
Os amigo da mesma idade respondem que é nesta altura que se conhecem os verdadeiros amigos, porque esses estão e estarão sempre do nosso lado.

Mas isso não é verdade. Pois não? Respondo-lhe assim: "Umas pessoas por falta de caráter, outras por ambição ou medo, mudam. Outras não. Mas nem sempre isso tem uma relação connosco. É mais uma atitude genérica."

De facto, uma regra genérica é que as pessoas comuns não são muito corajosas. No estado em que estão as coisas, em termos laborais, essas pessoas não muito corajosas farão o que for melhor para elas, independentemente do que deveriam fazer pelos amigos. Confrontadas com isso, dirão que tiveram medo. E isso colocá-las-á no lugar das vítimas, lugar que os portugueses tanto amam.

Um dia, a Natália Correia disse-me, discutindo comigo e com outras pessoas, o seguinte:

- A menina precisa de estar muito atenta! Ouviu? Muito atenta! Porque a menina não é nada atenta! Ouviu? (pronunciava aténta, abria muito algumas vogais, por ter lutado contra  a sua pronúncia açoriana, que as fecha todas). 
- Precisa de observar bem as pessoas e estar muito aténta!
- Eu não preciso de estar muito atenta, porque não sou burra!

- Está a chamar-me burra? - Vociferou, de forma atroadora, como costumava fazer quando se zangava.
Fiquei tão aflita com esta pergunta, que respondi em voz baixa:
- Claro que não, por favor! Nunca me passaria pela cabeça chamar-lhe tal coisa. - A voz baixa significava ausência de agressividade e de veemência argumentativa, ao contrário do tom em que tinha proferido a frase "não preciso de estar muito atenta, porque não sou burra!"

Acusou-me, então, também em voz baixa, de, aparentemente lhe ter chamado burra em voz alta e de me ter desculpado em voz baixa. 
(Esta mulher tinha um lado teatral que nunca podia ser ignorado quando se falava com ela.)

Não me foi nada difícil ultrapassar este problema, foi só questão de dizer, em voz muito alta, que a admirava muito, muitíssimo, sobretudo a sua enorme inteligência, embora nem sempre concordasse com ela (o que era inteiramente verdade). Acabámos as duas a rir deste pequeno show improvisado. (Isto passava-se no seu Retaurante- Bar Botequim)

E continuámos a conversa em voz baixa.

A Natália passou pela ditadura salazarista. Alguém em quem confiávamos poderia ir fazer queixa de nós à PIDE. E também os empregados, os vizinhos, os companheiros de trabalho, não só aqueles com quem estávamos em conflito ou competição. No momento em que estávamos a falar, 1993, meses antes da sua morte repentina, nada disso existia. Concluí eu, então: "não preciso de estar muito atenta, porque não sou burra!" 


Mas os tempos que atualmente vivemos, são outros. O medo voltou. A delação voltou. Está a voltar quase tudo, embora não tudo, no sentido dramático.
Está a voltar a necessidade de ter coragem. Estão a voltar os amigos nos quais não podemos confiar. Embora nos amem muito. Mas não têm coragem de nos defender...


- A menina precisa de estar muito atenta! Ouviu? Muito atenta!